ANCESTRALIDADE
Sinto pulsar no meu corpo o ventre da negra que não quer parir no mundo nenhum escravo, que se contrai na esperança de um homem livre.
Sinto em meu coração a india que recolhe os frutos aos pés da cachoeira e nela se banha, depois de ter corrido a ligeiros passos pra sentir os ares...os ventos.
Sinto em meu sangue o cangaço e em minha pele o suor das lutas.
Sinto meus cabelos voando soltos pela mata e os sinto desprendendo-se ao longo dos ombros depois de desfeito um fino coque.
Sinto em meus olhos a visão arrebatadora do mar e de caminhos infindos.
Sinto em meu olhar o enfrentamento do heroi corajoso e a fragilidade da donzela.
Se fecho os olhos me vejo empalidecendo, com o pulso para fora da cama, sangrando sobre uma bacia de cobre.
Posso sentir em minhas viceras as lutas de um povo. O meu.
Sinto ânsia de vômito de um indio diante de um covarde. Os covardes são inúteis e imundos.
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