terça-feira, 25 de maio de 2010

No alto de um precipicio.
Desses de onde as pessoas gostam de se matar.
Uma mulher.
Na verdade eu.
Lá em baixo pregos de ferro sujo apontavam pra mim.
Por trás deles um espelho.
No espelho a minha imagem.
Atrás dela a figura doce de um homem que procurava me abraçar.
E seus olhos cruzaram o espelho
Atravessaram os pregos.
Seus olhos me viram através da distancia do precipicio.
E nossos olhares se encontraram.
A ponta do meu pé saiu do chão.
E era pesada como um bloco de concreto.
E saiu arrastando meu corpo para dentro do vacuo.
Eu senti meu corpo voar.
A respiração ardia dentro do peito.
Fechei os olhos.
Senti os pregos entrando em minha carne.
Em meu corpo todo.
Agudamente.
Meu sangue escorreu pelo espelho.
Banhou toda sua superficie.
De dentro do mar vermelho um braço agarrou minha cintura.
Os Pregos ficaram pra trás.
Agora eu afundava num mar vermelho.
E sentia aquelas mãos.
Abri os olhos e reconheci aqueles olhos.
Meu sangue transformou-se em vinho.
E me derramei toda dentro dele.
Como se fosse ele uma taça.
E vi que me completava perfeitamente.
E vi que ainda estou caindo.
Mas agora estamos juntos.

......................

O que sinto é quase paz.
È como um beijo de amor no meio da guerra.
Parece que a beleza ainda existe.
Há muita morte, é verdade...
Há muito sangue no chão, mas vejo brotar uma rosa vermelha.
Ainda um botão.
No entanto vivo e fervente.
Só uma esperança, nada de mais.